Breves observações sobre as eleições municipais de 2016

  1. O maior derrotado nessas eleições foi o PT, que se tornou um partido médio nos governos municipais;
  2. Ao contrário do que muita gente acredita, não é possível dissociar a crise do PT da crise na esquerda – tanto PT quanto PSOL perderam todas as disputas que participaram no segundo turno;
  3. O PDT manteve o tamanho graças a Ciro Gomes, que trouxe boa parte do PROS para o partido. Não fosse isso, PDT também teria diminuído devido à crise na esquerda. Osasco é um ótimo exemplo disso: Lapas trocou PT por PDT e mesmo assim foi derrotado;
  4. O PSOL não ocupa o espaço que antes era ocupado pelo PT, pois os perfis eleitorais são diferentes. Salvo algumas exceções regionais, o eleitorado do PSOL tem um perfil eleitoral similar ao que o PT tinha nos anos 90: setores médios de maior escolaridade mais permeáveis a pautas progressistas nos costumes e direitos de terceira geração. Desde o início da década passada, esses setores se afastaram do PT, cuja base de apoio era representada pela base da pirâmide, muito mais sensível a políticas sociais;
  5. O PSDB foi o grande vitorioso dessas eleições, mas há um realinhamento dentro do partido. O PSDB mais liberal e modernizante, encabeçado por Aécio, perdeu espaço para o PSDB conservador e da política local de Alckmin;
  6. A Rede é um partido natimorto porque fez a aposta errada: não houve esgotamento da polarização, mas vitória de um polo sobre outro. Além disso, a indefinição da Rede quanto às reformas do governo Temer na prática a tornam igual ao centrão fisiológico;
  7. Dória, Crivella e Kalil e o elevado nível de abstenções refletem uma desilusão com a política tradicional, mas as semelhanças param por aí. Dória terá toda a imprensa a favor, Crivella será massacrado. O fato de Doria descumprir compromissos de campanha e manter a boa gestão fiscal de Haddad será noticiado como prática de estadista. Já a administração de Crivella terá uma abordagem da imprensa similar à que houve com Haddad;
  8. Apesar de diversas críticas da esquerda, Crivella é socialmente progressista, tanto que no passado foi criticado por Malafaia e na campanha de 2014 foi apoiado por diversos intelectuais de esquerda. E sinto dizer, a plataforma social de Crivella era mais sofisticada que a de Freixo;
  9. A derrota do PT não sepulta o discurso do golpe, que continua uma narrativa em aberto. Vale lembrar que 1970 a ARENA obteve esmagadora vitória sobre o MDB;
  10. Embora considere Haddad o melhor prefeito da história de São Paulo e entenda que uma autocrítica do PT é urgente, discordo de quem veja Haddad na presidência do PT como alternativa óbvia para o partido. A comunicação da administração e da campanha de Haddad deram muita ênfase para setores médios progressistas e não souberam se comunicar com as periferias e a base da pirâmide. A reconstrução do PT depende da base da pirâmide, segmento em que Haddad não conseguiu aglutinar;
  11. Em grande medida, o PT e a esquerda perderam por estarem no poder em uma das crises econômicas mais intensas da história do Brasil. Sem uma autocrítica econômica como a feita pela “Carta ao Povo”, a esquerda não oferecerá alternativa para voltar ao poder. A comparação da PEC 241 com o austericídio europeu e a defesa crescente de uma Auditoria Cidadã da dívida pública são evidências de que, em vez de sofisticar o discurso econômico, a esquerda está se tornando cada vez mais ingênua e pouco factível.